Calote na PT afeta Oi e abre caminho para união de TIM e GVT




Situação com Rioforte já leva TIM a admitir "novos protagonistas" para definição de seu futuro no Brasil


O rombo de € 897 milhões da Rioforte na Portugal Telecom pode alterar não apenas o destino da Oi, como da TIM e, indiretamente, o da GVT. Esta empresa, controlada pela francesa Vivendi e que nasceu no Paraná como espelho da Brasil Telecom, acaba de conquistar um passe para voltar a conversar com os italianos donos da TIM para uma potencial fusão. E se prepara para aproveitá-lo ao máximo.

O negócio poderia criar uma companhia de R$ 50 bilhões de valor. Juntas, sem contar as sinergias que poderiam ser obtidas, as empresas teriam receita líquida superior a R$ 25 bilhões.

A compra da TIM estava praticamente estruturada. A Oi, auxiliada pelo BTG Pactual, levaria a empresa. O mercado avaliava a companhia em, no mínimo, € 10 bilhões - prêmio pequeno frente ao valor de mercado atual de R$ 29 bilhões. Há especulações, porém, de que só a fatia da Telecom Italia poderia ser avaliada em R$ 20 bilhões.

O negócio poderia ser anunciado nos próximos meses, a depender da superação das discussões na Italia sobre a venda. Mas a perda repentina de quase R$ 3 bilhões em caixa pela Oi e ainda o impacto na credibilidade prejudicam muito o sucesso da empreitada.

O desenho era a aquisição integral pela Oi e a venda futura de pedaços da companhia para Telefônica (Vivo) e grupo América Móvi l - que já teriam opção de compra.

O próprio grupo espanhol - que também está no controle da Telecom Italia - foi o grande incentivador da transação, segundo o Valor apurou. A Telefónica foi quem levou a ideia à Oi, ainda no ano passado - antes até do anúncio da reorganização para junção com a Portugal Telecom.

Mas tornou-se muito difícil, no curto prazo, a Oi fazer um negócio do tamanho da TIM. Ainda que, em contrapartida ao investimento, adicionasse o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de mais de R$ 5 bilhões da empresa.

Em termos financeiros, a TIM tem atualmente maior saúde que a Oi. Em 2013, por exemplo, o fluxo de caixa da operadora de controle italiano ficou positivo em R$ 858 milhões - após investimentos e financiamentos. Na Oi, essa conta ficou negativa em R$ 1,98 bilhão

A Oi atual é ainda mais alavancada do que antes da fusão com Portugal Telecom - e a situação ficou ainda pior após a Rioforte. Dos R$ 8,2 bilhões captados em dinheiro na oferta de ações, mais de 90% compensam a dívida dos controladores brasileiros - de Telemar Participações e acionistas - e agora do Grupo Espírito Santos (GES).

O fluxo de caixa da TIM ajuda a entender porque a perspectiva de compra foi um trunfo nas apresentações que Zeinal Bava, presidente da Oi, fez aos investidores durante os esforços de captação no mercado internacional. O executivo tratava o negócio como altamente provável.

A transação, porém, não cabe mais no balanço da Oi e menos ainda na sua credibilidade para levantar mais recursos, tanto crédito como capital. A dívida líquida da companhia sobe para R$ 45,5 bilhões, ou 4,25 vezes seu Ebitda. A operadora sofreu rebaixamento da nota de crédito pela Fitch.

A situação desafiadora da Oi prejudica até a defesa das flexibilidades regulatórias e concorrenciais que seriam necessárias para que a TIM fosse comprada pelas três demais companhias do setor.

Há espaço, portanto, para a retomada de um posicionamento pró-consumidor, com o fortalecimento de TIM e GVT. Trata-se das duas metades operacionais do setor. Não surpreende que empresas já tenham laços comerciais de compartilhamento de rede.

Em 2012, a Vivendi tentou vender a GVT. Pedia entre € 7 bilhões e € 9 bilhões. Mas a maior proposta vinculante foi de R$ 11 bilhões - afetada em especial pela dificuldades da companhia de crescer em grandes e importantes centros muito verticalizados, como São Paulo e Rio de Janeiro.

A Vivendi, na França, passa por uma grande modificação de sua gestão com a chegada do empresário - e maior acionista - Vicent Bollore à presidência do conselho de administração. Ele assumiu o posto em 24 de junho. A GVT ganha novo sentido no grupo, que havia escolhido o negócio de entretenimento para focar esforços.

Para a GVT, a TIM é um ativo altamente estratégico. A empresa tem pensado soluções para a falta de uma operação em telefonia móvel.

Para a Telecom Italia, especialmente a porção italiana da gestão, a GVT seria a parceira ideal. Além de trazer os ativos que faltam - rede fixa, de fibra, e TV - seria um caminho para que o grupo mantivesse a TIM e, com isso, uma forte presença no Brasil.

O escândalo da Rioforte não poderia ter chegado num momento pior para a Oi - e, portanto, melhor para a GVT.

Paralelamente à estruturação da compra da TIM pela Oi, a Telefónica desenhou uma saída da Telecom Italia - o grupo espanhol é seu maior acionista. A Telco, holding controladora na Itália e veículo pelo qual a Telefónica tinha forte influência, será desfeita. Era por estar na holding, que somava 22% da Telecom Italia, que a espanhola tinha grande influência.

A Telefónica anunciou ontem a decisão de reduzir sua fatia em ações da Telecom Italia - que era de 14,7% para até 8,3%. Este movimento termina de compor o cenário ideal para a GVT buscar uma retomada do diálogo. E no grupo italiano já se admite o surgimento de novos protagonistas para o futuro da TIM no Brasil.

Ao eleger o Brasil como seu principal mercado fora da Espanha, a Telefónica não quer ver a GVT ganhar força. Por isso, era contra a operação. Agora, embora continue sendo um obstáculo para uma fusão - poderia fazer um grande estrago no mercado se saísse rapidamente de toda sua posição na empresa italiana- não é mais um impeditivo soberano.

Entre os analistas, não há certeza de que a Oi seja carta fora do baralho para a compra da TIM - embora se admita que no curto prazo o negócio se tornou difícil. A expectativa é que ele tente ser defendido e postergado. Já há rumores de que o BTG Pactual, estruturador do negócio com a Oi, poderia comprar os bônus que a Telefónica venderá.

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