Maior parte do Brasil está muito longe da banda larga

Com o acesso à banda larga presente em apenas 38,94% dos domicílios brasileiros, serão necessárias mudanças profundas no marco regulatório de internet, no sistema tributário e no modelo de negócios e de receitas dos provedores para o país alcançar a meta de 90%, propagada pelo governo nos últimos anos. Para popularizar a banda larga nesse nível, seriam necessários investimentos entre R$ 100 bilhões e R$ 200 bilhões em redes durante os próximos dez anos. O cálculo faz parte de estudo do Boston Consulting Group (BCG), que aponta os desafios para a universalização do serviço e o desembolso dos recursos pelas empresas. A diferença entre o menor e o maior valor depende de diversos fatores, como a busca pelo equilíbrio entre o crescimento acelerado da demanda e a redução dos investimentos no setor, o nível de ambição de cobertura e penetração, e o grau de eficiência. O Brasil fechou agosto com 26,5 milhões de acessos de banda larga fixa e 197,3 milhões na rede móvel, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). É claro o papel de coadjuvante que a rede fixa passou a exercer, pela falta de cobertura, enquanto a infraestrutura móvel ganhou a liderança. Mas o modelo ainda precisa ser aprimorado, para que o acesso, a tecnologia e o custo sejam viáveis para os consumidores, o que não acontece pela rede móvel. Nos últimos dez anos, o setor de telecomunicações investiu R$ 226 bilhões, segundo o SindiTelebrasil, que representa as operadoras. Em bens de capital, os gastos anuais foram de R$ 14 bilhões. O retorno dos investimentos das empresas está em 4,8% ao ano, bem abaixo do custo de capital de 15%. O baixo retorno limita os gastos em infraestrutura e compromete a rentabilidade, diz Marcos Aguiar, sócio sênior do BCG. Com novos concorrentes digitais como WhatsApp e Netflix, a restrição financeira pode se tornar ainda mais grave, segundo ele. "Para criar uma infraestrutura de banda larga, o setor precisa criar um ciclo virtuoso, com uma regulação que torne o mercado atrativo, capaz de gerar receita, caixa e justificar investimentos, sustentando­se sem a necessidade de subsídios", diz Aguiar. "Para isso, é preciso resolver a situação econômica das operadoras." Apesar de o Brasil ter crescido menos que os outros países emergentes no período de 2001 a 2013 e com produtividade mais baixa ­ de 22% no período, ante 89% na China e 83% na Índia ­, a melhora da infraestrutura pode ser responsável por um ciclo econômico sustentável no longo prazo. Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Banco Mundial indicam que a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) avança em 0,2 a 1,2 ponto percentual para cada 10 pontos percentuais a mais de presença da banda larga. Segundo a Ericsson, a cada duplicação da velocidade média de acesso, o PIB cresceria 0,3 ponto percentual. A massificação da banda larga adicionaria mais de R$ 1,4 trilhão na economia brasileira nos dez anos até 2025, calcula o BCG. O processo de universalização da banda larga fixa ainda não ocorreu no Brasil. "O que aconteceu de mais marcante foi um aumento significativo de velocidade para quem já tinha acesso ao serviço, principalmente as classes mais ricas, enquanto uma elevada parcela das classes C, D e E permanece sem acesso à internet", diz o BCG. Pelas concentração de riqueza em alguns centros urbanos, 44% das receitas das operadoras ­ de telefonia fixa e móvel ­ são obtidas da cobertura de 1% da extensão territorial do Brasil. "Caso não sejam tomadas ações para aumentar a eficiência, podem ser necessários até 14 anos para cobrir esta ambição nos volumes atuais de investimento, assumindo­se que a vasta maioria dos recursos fosse canalizada para banda larga, o que não é necessariamente o caso hoje", diz o sócio da BCG. "É preciso ter em mente que a simples manutenção dos níveis atuais de investimento da indústria já constitui um desafio". Os patamares de retorno sobre capital empregado caem desde 2011 (em termos reais) e, neste ano, devem passar a ter queda nominal (sem desconto da inflação). Para elevar os retornos aos níveis de custo de capital, as margens de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) teriam de aumentar para 50% a 55%, uma realidade distante, mesmo em outros países. Segundo o estudo, isso significa que a melhora não depende apenas de cortes de custos, mas de outras alavancas, como melhor produtividade dos ativos, por meio do compartilhamento de infraestrutura, reduzir a carga de obrigações, consolidar a indústria e racionalizar tributos. O estudo do BCG propõe igualdade nas condições de competição entre as companhias (como OTTs e teles); e fomentar o compartilhamento de infraestrutura, entre outras medidas.

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