Fábrica de iPad: Abinee questiona investimentos de US$ 12 bi no Brasil

Projeto seria mais útil para o País se fosse na área de componentes, que mais pesa no déficit da balança comercial, segundo a entidade

Por Edileuza Soares, da Computerword

Os investimentos de 12 bilhões de dólares ou 18,9 bilhões de reais em uma fábrica da Foxconn no Brasil para montagem de produtos Apple, como o iPad, anunciados durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, geraram protestos por parte da indústria de eletroeletrônicos.

As preocupações do setor já chegaram até o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercandante, que promete após a viagem, na segunda-feira, 25/4, uma reunião com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, para detalhar o plano dos chineses.

Segundo a (Abinee), os valores são exagerados e desestabilizam o setor, que neste momento precisa mais é de uma indústria de componentes para o equilíbrio da balança comercial de eletrônicos.

"Todo investimento para o Brasil é bem-vindo, mas achamos que os valores anunciados pelos chineses são um exagero. Os volumes estão fora da nossa realidade e vão desorganizar o mercado", avalia o presidente da Abinee, Humberto Barbato.

Em sua opinião, a promessa da China de injetar tanto dinheiro no mercado brasileiro é uma medida estratégica para evitar possíveis retaliações contra sua política cambial agressiva, que está quebrando o mundo e gerando problemas também no Brasil.

Barbato questiona a ordem de grandezas dos números, que segundo ele, estão muito dimensionados. Na sua avaliação, com 12 bilhões de dólares dariam para construir quatro plantas da Intel no Brasil. 

"Estamos precisando é de uma fábrica de componentes e não mais uma indústria de montagem", protesta o presidente da Abinee. Ele lembra que em 2010 o déficit da balança comercial de eletrônicos chegou a 12 bilhões de dólares, 58% superior ao volume registrado em 2009.

O presidente da Abinee diz que esperava que o ministro do MCT voltasse da China com algum acordo fechado na área de componentes, já que a maior parte das indústrias desse setor está localizada naquele país e leste asiático. "Mercadante saiu do Brasil preocupado com essa área. Agora ficamos receosos e temerosos com os investimentos apresentados pela Foxconn", comenta o executivo.

Não é de hoje que Barbato alerta para a perda de competitividade da indústria nacional, e acusa o governo de assistir, sem reação, ao processo de desindustrialização do país devido à política cambial. A entidade defende medidas compensatórias, como desoneração da folha de pagamento de empresas exportadoras e a implantação de novas políticas industriais que promovam o chamado adensamento da cadeia do Processo Produtivo Básico (PPB), ou seja, maior produção local, especialmente na área de componentes.

Em 2009, o segmento de componentes apresentou um déficit de mais de 10 bilhões de dólares, com exportações de 2,5 bilhões de dólares e importações de cerca de 13 bilhões. Em 2010, o déficit foi expressivo outra vez.

"Este cenário requer mudanças expressivas na estrutura do segmento de componentes eletrônicos. A implementação de políticas de incentivo teria como meta o ganho de competitividade do produto brasileiro", afirma Barbato.

A balança comercial de eletroeletrônicos entre o Brasil e a China é muito desigual. Em 2010, os chineses importaram 151,6 milhões de dólares em produtos e componentes produzidos no Brasil, enquanto a indústria brasileira importou 12,4 bilhões de dólares dos chineses.

Falta de mão de obra

A quantidade de pessoas exigida pela Foxconn para montagem local dos displays de celulares e iPads da Apple também foi questionada pelo presidente da Abinee.

"Como pode uma única fábrica gerar 100 mil empregos se todo o setor de eletroeletrônico emprega no País 175 mil profissionais?", pergunta Barbato. Ele também quer saber onde a Foxconn vai achar 20 mil engenheiros no Brasil.

O presidente da Abinee observa que, com o aquecimento da economia, o Brasil está sofrendo com a falta de mão de obra qualificada. "Vamos importar engenheiros da China?", pergunta Barbato.

O executivo espera que Mercadante volte da China com explicações sobre os novos investimentos anunciados naquele país durante a visita da Dilma. "Queremos que o ministro detalhe esse projeto e o seu real objetivo porque estamos preocupados com a ordem dos investimentos anunciados", diz Barbato.

Ele teme que por traz dos volumes apresentados tenha uma estratégia da China para aumentar a competição com indústria local, jogando os preços para baixo. "É impossível concorrer com os chineses. Eles mantêm a moeda deles desvalorizadas e por isso o produto deles é mais barato. A China também não tem encargos sociais pesados, o que fica difícil para a indústria brasileira exportar e concorrer com eles", diz o presidente da Abinee.

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