O medo das operadoras

Um ano depois de as operadoras de telefonia celular receberem friamente o Google Inc. no grande evento anual do setor, em Barcelona, o sistema operacional da empresa, o Android, se tornou a grande estrela da convenção.

O Android está em todos os aparelhos mais importantes lançados aqui este ano e se beneficiou de uma grande campanha de marketing do Google.

Além de todo o frenesi, está se tornando cada vez mais evidente para operadoras, fabricantes e programadores de aplicativos que o Android está em pé de igualdade e até supera em alguns aspectos a plataforma da Apple Inc., o iOS. A preocupação agora é que o Android pode se tornar poderoso demais.

Imagem
Demotix - No congresso da telefonia móvel em Barcelona, o robozinho foi a estrela

O diretor-presidente da Nokia, Stephen Elop, disse que um dos motivos pelos quais ele decidiu apostar as fichas na plataforma Windows Phone 7, da Microsoft, em vez do Android é que ele temia a criação de um duopólio no mercado em que o Google e a Apple ficariam com todo o poder.

Isso ressalta a ambivalência das operadoras que dependem do Android para lançar aparelhos bem-sucedidos, mas temem uma concentração excessiva do mercado.

"Ter apenas duas empresas provavelmente não é saudável para o ecossistema", disse Fared Adib, vice-presidente de operações de celulares da americana Sprint Nextel Corp.

O diretor do Google para o Android, Andy Rubin, não dá o menor crédito a essa alegação. "Sinto-me desconfortável quando as pessoas dizem que algo com código-fonte aberto seja poderoso demais", disse Rubin, referindo-se ao fato de que o código do Android está disponível de graça para quem quiser usá-lo. "Um dos motivos por que ele foi tão adotado é que eliminamos qualquer tipo de controle."

As operadoras já temem o Google há algum tempo. Um ano atrás, em Barcelona, o diretor-presidente da Vodafone Group PLC, Vittorio Colao, criticou o domínio do Google na propaganda em celulares e chegou a sugerir que as autoridades antitruste examinassem a questão. O presidente do conselho da Telefónica SA, César Alierta, juntou-se a ele e também reclamou que os sites de busca se aproveitam da rede das operadoras e não compartilham o faturamento que obtêm fazendo isso.

Mas nada disso diminuiu a febre do Android em Barcelona este ano. O robozinho símbolo do sistema operacional foi onipresente. Havia broches, um escorregador e até mesmo uma bebida Android, servida numa festa fechada realizada pela empresa terça-feira à noite. O diretor-presidente do Twitter Inc., Dick Costolo, desfrutou um pouco de champanhe em taças com o logotipo do Android na área vip com o diretor-presidente do Google, Eric Schmidt, enquanto se formava uma fila gigantesca de interessados em entrar na festa mais comentada do evento.

A Samsung Electronics Co. lançou o novo smartphone e tablet Galaxy S. A HTC anunciou seu primeiro tablet, juntamente com cinco novos smartphones. A LG exibiu seu novo tablet Optimus Pad (ou G-Slate nos EUA), de 8,9 polegadas, e o primeiro celular com 3D do mercado. Todos esses aparelhos usam o Android.

A forte presença do Google no que tradicionalmente tem sido um evento de operadoras ressalta o papel crucial do software numa indústria de celular em que os smartphones e o uso de aplicativos têm alimentado a maior parte das vendas.

Os aparelhos com Android já estão no mercado há alguns anos, mas só começaram a ganhar impulso nos últimos 15 meses, com o lançamento de aparelhos mais sofisticados da Motorola e da HTC. O Google informa que tem ativado 300.000 aparelhos com Android por dia e já tem 170 aparelhos no mercado, em 169 operadoras.

Algumas empresas acham que mesmo que o Google adquira uma quantidade desconfortável de poder no mercado de celular, elas não têm outra escolha que não seja participar da onda. A LG, a Samsung e, especialmente, a Motorola usaram o Android para ganhar impulso no mercado de smartphones.

"Não sei se dá para dominar tudo", disse Alain Mutricy, vice-presidente sênior de gerenciamento de portfólio e produtos da Motorola Mobility. "Se você quer estar na vanguarda da tecnologia, é isso que precisa fazer."

A maior preocupação das operadoras este ano pode ser a Apple. A combinação de aparelhos extremamente populares com um ecossistema fechado de aplicativos e de cobrança dá à empresa um domínio tenaz da lealdade dos clientes das operadoras.

Este ano, Colao, da Vodafone, criticou especialmente sistemas fechados e verticalmente integrados de cobrança para aplicativos e pediu mais abertura e concorrência.

O diretor-presidente da operadora americana AT&T, Randall Stephenson, disse que conteúdo deve ser "independente do aparelho" e armazenado na "nuvem" da rede da AT&T.

Fonte: Shayndi Raice @ The Wall Street Journal
Colaborou: Gustav Sandstrom

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

4 celulares para curtir TV digital

Android Pie chega ao LG G7 ThinQ.

Driver leadership 0091 - Receptor de TV Digital.zip