Indefinições para leilão de 4G preocupam companhias
Para comparação, processo semelhante de limpeza de espectro está ocorrendo no Japão, onde foram feitos testes durante dois anos e foi apurado custo de US$ 3 bilhões para mitigar a interferência de sinais entre os dois serviços. A rede 4G na nova frequência está prevista para entrar em operação em 2015 no país asiático. Lá, as teles também tiveram de assumir os custos para desocupação das faixas e conter as interferências.
No Brasil, com uma consulta pública a caminho, um edital a ser elaborado e o leilão previsto para agosto há dúvidas entre fontes do setor sobre o cumprimento do cronograma. Apesar dos vários prazos estimados pelo governo anteriormente, desde o ano passado, para realização do leilão, na terça-feira foi a primeira vez que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabeleceu formalmente uma data, o que animou Daniel Slaviero, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
"A preocupação das emissoras é que para essa faixa ser liberada, todos os custos envolvidos e a forma de pagamento devem ser cristalinos, para não prejudicar o conteúdo da TV aberta", disse Slaviero.
Ocorre que há vários pré-requisitos antes que seja dada nova destinação ao espectro. Hoje, a faixa de 700 MHz é ocupada pelos canais em UHF 52 a 69 da TV aberta. Todos serão realocados para a TV digital, do canal 14 ao 51, em várias faixas. Serão vizinhos da frequência de 4G, o que requer iniciativas para conter interferências de sinais da transmissão de um serviço sobre a do outro. O nível de interferência é medido por estudos encomendados pelas empresas de radiodifusão à Universidade Mackenzie, de São Paulo, e pelas teles ao CPqD, de Campinas. O relatório do Mackenzie fica pronto neste mês e será encaminhado à Anatel. Avaliação preliminar confirma a existência de interferência.
A Anatel realiza testes de campo com as emissoras de TV e as teles em Pirenópolis (Goiás), onde convivem antena de celular e de radiodifusão, e em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, sede do Instituto Nacional de Telecomunicações. A previsão é que os testes sejam concluídos em março.
Para mudar os canais é preciso fazer um replanejamento, que determinará se com o adensamento pelo sistema digital eles cabem no novo espaço. O trabalho, já feito em grande parte do país, coloca em estudo agora o Norte e Nordeste. São necessários ainda equipamentos novos, como antena e transmissor. Em alguns casos, o canal terá de mudar também de localidade física, com torre, cabos e abrigo para o transmissor. Tudo isso entra na conta das teles que quiserem comprar a faixa de 700 MHz.
"Que ônus vamos assumir, o da interferência de sinais, o da migração de canais em todo o Brasil?", questiona Eduardo Levy, diretor-executivo do SindiTelebrasil, organização que representa as operadoras de telecomunicações. Segundo ele, embora o assunto não seja confuso, não está bem definido. Falta clareza, por exemplo, sobre o que o governo entende como custo a ser pago pelas teles. "Vamos pagar pelas licenças e alguma coisa para limpar a faixa e liberar para 4G. O princípio no país é que quem vai ocupar a faixa faz a limpeza, mas isso, se quem sai antecipa o seu cronograma", disse Levy. "É preciso ter cautela para ter uma noção do que se vai gastar, em qual região e com que rapidez."
Todas essas questões devem ser respondidas a tempo de constar do edital que estabelecerá as regras do leilão. Por isso, a preocupação das companhias de ambos os lados se haverá tempo hábil para não atrasar o cronograma.
Como vendedor e arrecadador, o governo precisa garantir que os compradores paguem suas contas. No leilão de 2,5 gigahertz, o primeiro para venda de frequências para 4G, o edital deixou margens de interpretações diferentes sobre quanto as teles arcariam pela desocupação da faixa de MMDS pela TV paga. O remanejamento deveria ter sido pago em meados de 2013, mas, segundo a Anatel, só a TIM e a Vivo o fizeram, embora parcialmente, já que recorreram à Justiça para questionar os valores.
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