Telecom Italia e TIM preparam oferta pela GVT



Patuano, da Telecom Italia: ele não faria ‘oferta louca’ pela GVT, mas não desistiu

A afirmação do CEO da Telecom Italia, Marco Patuano, de que não vai entrar em um leilão pela GVT, fazendo uma "oferta louca", feita anteontem, não significa que desistiu de lutar pela TIM . O Valor apurou que está sendo negociada agora uma oferta da TIM pela GVT. Os italianos precisam ser ágeis se quiserem driblar a Telefónica da Espanha, que espera até 3 de setembro resposta da Vivendi para levar a GVT por R$ 20,1 bilhões.

Antes da oferta da Telefónica, Vivendi e Telecom Italia negociavam entre eles uma fusão das subsidiárias brasileiras GVT e TIM, e a transformação da empresa de mídia francesa na acionista de referência do grupo italiano.

As ofertas entre os dois grupos concorrentes guardam semelhanças e diferenças. No caso da Telefónica, a Vivendi poderia ter acesso a 12% da Telefônica Vivo e também à fatia de 8,3% na Telecom Italia que hoje está nas mãos dos espanhóis. Perderia, contudo, o controle dos negócios. Seria uma acionista financeira, com potencial para parcerias estratégicas em conteúdo que, por enquanto, não estão oficialmente na mesa.

Agora, na proposta da TIM pela GVT, a Vivendi manteria a influência política nos negócios, pelo fato de o plano envolver a sua transformação na principal acionista da operadora italiana. Mesmo nos negócios no Brasil, a companhia francesa também teria um papel mais relevante, a despeito de o negócio ser menor. Na oferta da Telefónica, a GVT foi avaliada em R$ 16 bilhões (a proposta inclui R$ 4 bilhões em dívidas no montante divulgado). Somente a TIM vale perto de R$ 27 bilhões na BM&FBovespa. A matriz na Itália detém 67% das ações da empresa brasileira.

Claramente demonstrando irritação com o movimento da Telefónica, Patuano disse, na quarta-feira, que continuava a estudar opções estratégicas para reagir à rival, indicando que o destino da TIM ainda não estava selado. A imprensa italiana já dizia que as negociações com a Vivendi para uma fusão com a GVT continuariam.

A contrariedade de Patuano parece ser compartilhada por seus compatriotas. "A oferta da Telefónica pela GVT é um ato hostil contra a Telecom Italia por parte de seu maior acionista para bloquear uma fusão entre a Vivendi e a TIM Brasil", postou no Twitter, Franco Bassanini, presidente da instituição financeira italiana Cassa Depositi e Prestiti (CDP). Bassanini foi ministro italiano da Administração Pública e Assuntos Regionais e é professor de direito constitucional. Ele questiona se a iniciativa da Telefónica não representa um problema nacional.

Com os grandes grupos de telecomunicações fortalecidos por meio de serviços complementares de telefonia fixa, móvel, banda larga e TV por assinatura, a TIM virou exceção por não ter um portfólio completo nem um parceiro para consolidação. De imediato, outras opções de consolidação, fora a GVT, não são tão evidentes.

"A TIM sozinha vive feliz", disse uma fonte próxima ao grupo italiano. "O problema é que a GVT é um parceiro complementar e pode fortalecer a atuação da TIM."

Outra ideia, de fatiar a TIM entre Claro, Oi e Vivo, não agrada ao grupo italiano e enfrenta dificuldades também no Brasil diante da situação financeira da Oi. Além disso, parte do mercado tinha dúvidas se o bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Claro, Embratel e Net, poderia aderir a um acordo entre rivais, já que sua estratégia de aquisição é muito focada em ativos de baixo valor, exceto casos em que o interesse no alvo seja forte para complementar os planos de negócios do grupo. Foi assim nas investidas que fez para entrar e se fortalecer no Brasil e em outros mercados mundiais.

Se perder a GVT para a Telefónica, a empresa italiana enfrentará um cenário adverso. "Além de não enxergarmos uma contraproposta para a GVT, perdendo assim um ativo importante para sua competidora (Vivo), essa consolidação afasta as possibilidades de outras fusões no setor no curto e médio prazo", diz o analista Lucas Marins, da Ativa Corretora. Pelo fato de a TIM operar com um risco controlador bastante elevado, a diluição da mesma, ou a venda para outra controladora, seria bastante benéfica para a empresa, segundo Marins.

Se a Telecom Italia desistir de um crescimento relevante no Brasil, como vai compensar a estagnação dos negócios em seu mercado doméstico? Nos resultados do 2º trimestre apresentados na quarta-feira, o grupo mostrou que o Brasil representa 29% de sua receita. Apesar do recuo comparado a 30,6% um ano antes, manteve a projeção de crescimento ao longo do ano no Brasil e de queda no mercado doméstico.

A Vivendi deve analisar a oferta da Telefónica na reunião de seu conselho de administração em 28 de agosto. Nesse meio tempo o grupo italiano mantém suas opções, que poderão ir em sentido contrário ao de uma fusão com a GVT. Segundo analistas italianos, talvez não seja tarde para reviver a ideia de um aumento de capital, embora a ideia tenha custado o cargo de Franco Bernabè, que antecedeu Patuano à frente da Telecom Italia e se demitiu em outubro do ano passado.

A Oi, que já está envolvida em um cenário bastante conturbado pela fusão com a Portugal Telecom e todos seus problemas operacionais e financeiros, deverá ter pela frente um cenário mais difícil nos serviços fixos, prevê Marins. A expansão do segmento fixo pela Telefônica Vivo, ainda mais em territórios de grande exposição da Oi, criará uma pressão competitiva mais forte, na qual é plausível a perda de mercado da operadora brasileira.

"Não há muito mais espaço para números decepcionantes e resultados fracos para a Oi", afirma o analista, referindo-se aos resultados do 2º trimestre.

Ainda não há consenso no mercado se a Vivendi poderá enfrentar problemas junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) se fechar o negócio com a Telefónica e receber parte do pagamento em ações da Telecom Italia e da Telefônica Brasil. Para alguns executivos, a empresa espanhola estaria transferindo para a francesa seu imbróglio junto ao Cade. Para Arthur Barrionuevo, professor da EAESP/FGV e ex-conselheiro da agência antitruste, se nesse cenário a Vivendi conhecer a estratégia dos dois grupos, o Cade poderá não aprovar.

Isso porque, paralelamente, a proposta da Telefónica contempla o oferecimento à Vivendi de 8,3% do capital que possui na Telecom Italia, o qual a companhia francesa pagaria em dinheiro. Pela GVT, a Vivendi pode receber R$ 11,962 bilhões em dinheiro (cerca de € 4 bilhões) e uma participação de 12% em uma nova emissão de ações da empresa que surgiria da integração da Telefônica Brasil com a GVT - o valor é estimado em R$ 8,1 bilhões (em torno de € 2,7 bilhões). O pagamento em dinheiro será financiado por meio de um aumento de capital da Telefónica, do qual a empresa espanhola faria uma subscrição proporcional.

Para um gestor de operadora europeia, apesar de as participações oferecidas à Vivendi não serem estratégicas, financeiramente são interessantes. A empresa francesa, que vem tentando se concentrar nos negócios de mídia e entretenimento, sairia de um ativo que possui integralmente, a GVT, para ser acionista em outras duas operações. Embora minoritária, a Vivendi pode manter um pé no setor e ainda receber dinheiro novo em caixa. Futuramente, poderia se desfazer dessas ações, se decidir deixar telecomunicações totalmente.

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