Samsung tenta reduzir dependência de celulares




O período de almoço começou há pouco mais de uma hora e a multidão de trabalhadores já se dissipou na cafeteria do edifício R5, um dos mais importantes do complexo de Suwon, o berço da unidade de eletrônicos da coreana Samsung. No complexo, também conhecido como Digital City, trabalham 34 mil pessoas divididas em 131 prédios. Dentre eles, o R5 é especialmente importante pois é o centro nervoso da unidade de dispositivos móveis, o principal negócio da fabricante: em 2013, a venda de telefones celulares e tablets representou 60% da receita de US$ 217 bilhões em todo o mundo.



A velocidade com que os funcionários terminam suas refeições e retomam o trabalho é reflexo de umas das características mais marcantes da cultura coreana - resumida na expressão "pali, pali", ou rápido, rápido - e um traço que a fabricante precisa, mais do que nunca, exercitar. Líder em celulares, ela está sendo encurralada pela Apple no segmento de aparelhos mais caros e por rivais chinesas como Xiaomi, Lenovo e Huawei nos modelos mais baratos.


No terceiro trimestre, a companhia apresentou a segunda desaceleração consecutiva em seus resultados, com redução de 49% no lucro líquido em relação a igual período de 2013. O desempenho foi impactado pelo recuo de 74% no resultado da divisão de tecnologia da informação (TI) e comunicações móveis. A receita líquida da fabricante encolheu 19,7%. Para reverter esse quadro, a fabricante precisa tomar decisões e agir de forma acelerada. Caso contrário, pode experimentar o que ela própria fez com a Sony entre os anos 90 e o início dos anos 2000.

Nesse período, a companhia japonesa, que era o principal nome no mercado de eletrônicos, ignorou o avanço de competidores então bem menores que ela como as coreanas Samsung, LG e as chinesas Haier e TCL. Hoje, é a Sony quem passa por dificuldades, enquanto as outras marcas aumentam sua relevância entre varejistas e consumidores.

Na tentativa de não perder o rumo, a Samsung vem tomando medidas que podem ser divididas em duas áreas: melhorar os resultados em dispositivos móveis e reduzir a dependência desses produtos. Na primeira frente, HS Jo, vice-presidente de vendas e marketing da área móvel para a América Latina diz que a meta é reduzir custos e otimizar lançamentos.

Em seu portfólio, a Samsung tem mais de 40 telefones à venda. A ideia é ter uma grande variedade de produtos nas mais variadas faixas de preços. Enquanto alguns dos modelos mais recentes da empresa são passados de mão em mão sob a mesa da sala de reuniões no R5, Jo diz que a companhia quer otimizar sua linha. "Isso não significa lançar menos produtos, mas ouvir o consumidor e colocar no mercado o que atenda às suas necessidades", diz. Na avaliação de Tuong Nguyen, analista da empresa de pesquisa Gartner, o próximo desafio da Samsung é oferecer serviços que liguem os smartphones a outros produtos da marca e se integrem ao estilo de vida do consumidor.

Criada em 1969, a Samsung Electronics é a maior divisão de um conglomerado composto por 70 empresas que responde por quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB) da Coreia. Sua atuação se estende da construção civil à indústria química, passando pela hotelaria, o varejo e o entretenimento - o grupo é dono do Everland, um parque de diversões que recebe cerca de 10 mil visitantes por dia. Pelas ruas congestionadas de Seul, é difícil ficar cinco minutos sem ver ao menos uma das muitas marcas da holding.

Trabalhar na área de eletrônicos da chaebol - termo usado para batizar grandes conglomerados como Samsung, Hyundai e LG - é o sonho de boa parte dos coreanos. Para conseguir um emprego, alguns passam por uma espécie de cursinho preparatório para os grandes processos de seleção que acontecem duas vezes ao ano.

Uma das áreas de grande interesse da companhia no momento é a venda de produtos para empresas e governos. Ainda representando uma parte muito pequena dos negócios, a divisão tem objetivos ousados: atingir um terço do resultado da companhia até 2020, ou cerca de US$ 120 bilhões da receita de US$ 400 bilhões que a companhia pretende atingir até lá. "A experiência que nós construímos nas vendas para os consumidores estão ajudando e serão importantes para crescer entre as empresas. Ninguém tem o alcance e a profundidade de negócios que a Samsung tem", diz o indiano Sandeep Arya, diretor de contas globais da empresa. As áreas de TVs, refrigeradores e componentes eletrônicos também têm recebido grandes investimentos. Uma nova fábrica de semicondutores na Coreia, anunciada há algumas semanas, vai receber US$ 14 bilhões. Outra unidade está em construção no Vietnã.

Na história recente do mundo da tecnologia são raros os exemplos de grandes companhias que conseguiram se reerguer depois de uma crise. Nokia, BlackBerry, Philips e as grandes marcas japonesas encolheram sua participação, ou simplesmente abandonaram alguns segmentos por conta das dificuldades em competir. Diante desse retrospecto, agir "pali, pali" nunca fez tanto sentido.

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